Quando o Tether (USDT) foi lançado em 2014, parecia apenas mais um experimento dentro de um mercado dominado pelo Bitcoin e marcado pela volatilidade extrema. Na época, a proposta de criar um “dólar digital” soava como um improviso técnico para traders que buscavam estabilidade momentânea em meio ao caos dos preços.
Dez anos depois, o cenário é completamente diferente. As stablecoins evoluíram de ferramentas marginais para se tornar uma infraestrutura global de liquidação, movimentando trilhões de dólares todos os meses, desafiando bancos e processadoras de pagamentos tradicionais. Só em 2025, a capitalização total das stablecoins atingiu cerca de US$280 bilhões, equivalentes a 1,2% do agregado monetário M2 dos EUA. Mais do que um número simbólico, isso mostra que estamos diante de uma transformação estrutural na forma como o dinheiro circula.
A força da simplicidade
O poder das stablecoins está justamente em sua simplicidade: são tokens que representam 1 dólar (ou outro ativo estável), circulando em blockchains públicas, com liquidação quase instantânea e taxas próximas de zero. Em redes como a Solana, uma transferência pode custar menos de um centavo, enquanto o sistema tradicional de remessas ainda cobra, em média, 6% por envio internacional.
Esse diferencial explica por que o volume transacionado com stablecoins ultrapassou US$35 trilhões entre 2024 e 2025, chegando a picos mensais acima de US$4 trilhões. Para efeito de comparação, a Visa processou US$13,2 trilhões em 2024, e a Mastercard US$10 trilhões. Embora as metodologias sejam diferentes, o fato é claro: as stablecoins já rivalizam com os maiores sistemas de pagamento do planeta.
Inclusão financeira e “dólares digitais”
Nos países desenvolvidos, stablecoins são vistas como inovação e eficiência. Mas nos mercados emergentes sua função é vital: proteger a poupança e servir como alternativa às moedas locais frágeis.
Um estudo recente mostrou que 69% dos usuários em países emergentes utilizam stablecoins como substituto cambial e 39% como meio de pagamento. No Brasil, 90% das transações cripto em 2025 já acontecem em stablecoins, impulsionadas pelo crescimento acelerado do setor.
Casos ao redor do mundo reforçam essa tendência:
- Turquia: a lira perdeu 80% de valor desde 2020, e o par USDT/TRY se tornou um dos mais negociados globalmente.
- Argentina e Venezuela: famílias, empresas e até a estatal PDVSA usam stablecoins como reserva de valor e liquidação internacional.
- Nigéria: stablecoins superaram a própria CBDC local, o eNaira, em volume de transações P2P.
Esse fenômeno gera um paradoxo: de um lado, stablecoins promovem inclusão para cerca de 1,3 bilhão de pessoas desbancarizadas. De outro, criam uma “dolarização digital parcial”, que fragiliza a soberania monetária de países em desenvolvimento. Bancos centrais já soam o alarme — inclusive o Banco Central do Brasil, em 2025.
O jogo das nações
A ascensão das stablecoins deixou de ser apenas uma questão de tecnologia: virou geopolítica monetária.
- Estados Unidos: em 2025 aprovaram o GENIUS Act, exigindo reservas 100% lastreadas em caixa ou T-bills, auditorias e licenciamento federal. A proibição de pagamento de juros buscou evitar competição com depósitos bancários. O impacto foi imediato: +US$9 bilhões de capitalização em apenas um mês. Mais importante ainda: cada dólar digital passou a representar, de fato, um título da dívida americana, reforçando a hegemonia do dólar.
- União Europeia: seguiu um caminho defensivo com o MiCA, impondo limites severos a stablecoins não denominadas em euro, temendo a erosão da autonomia monetária.
- Ásia: mosaico de estratégias. Japão restringe emissões a bancos, Hong Kong exige licenciamento, enquanto Singapura mantém ambiente pró-inovação.
- Oriente Médio e Reino Unido: apostam em stablecoins para atrair capital e relevância, criando hubs financeiros regionais.
Cada bloco, ao seu modo, usa a regulação como ferramenta estratégica: os EUA expandem o dólar, a UE protege o euro, a Ásia busca equilíbrio e outros países enxergam oportunidades de posicionamento global.
A integração institucional
Se no passado as stablecoins eram periféricas, hoje já estão integradas ao coração do sistema financeiro:
- Visa e Mastercard processam transações diretas em stablecoins.
- Bancos globais como JPMorgan, Citi e Bank of America estudam ou já desenvolvem soluções próprias.
- Big techs seguem a mesma trilha: o PayPal lançou a PYUSD, a Stripe comprou uma infraestrutura de on/off-ramps, e a MoneyGram expandiu remessas em USDC.
Além disso, fundos tokenizados como o da Franklin Templeton ou da BlackRock mostram como stablecoins se conectam com os mercados de capitais. Cada stablecoin emitida hoje, em última instância, é lastreada em T-bills, tornando essas moedas digitais um braço invisível da própria dívida americana.

Impactos e riscos
O crescimento acelerado traz oportunidades, mas também riscos:
- Dolarização digital: economias frágeis perdem instrumentos de política monetária.
- Concentração: mais de 95% do mercado está atrelado ao dólar, dominado por Tether e Circle.
- Corridas: em momentos de estresse, resgates massivos podem gerar vendas abruptas de T-bills, ampliando a instabilidade financeira.
O Sentido da Nova Ordem Monetária
As stablecoins já não são um detalhe do mercado cripto — tornaram-se peça estrutural da liquidez global. Funcionam como dólares digitais 24/7, acessíveis de qualquer smartphone, conectando bilhões de pessoas e rivalizando com os maiores sistemas de pagamento.
O desafio agora não é mais discutir se terão espaço, mas como serão moldadas. Governos, bancos e empresas já entraram no jogo, cada um com seus interesses estratégicos.
Se Viktor Frankl dizia que o sentido nasce da forma como reagimos às circunstâncias, talvez possamos aplicar o mesmo raciocínio às stablecoins: não cabe resistir à sua existência, mas sim dar direção e propósito à sua integração. O verdadeiro desafio do século XXI será equilibrar inclusão, estabilidade e soberania em uma nova arquitetura financeira global.
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